Francisco Sanches
Francisco Sanches nasceu no início da década de cinquenta do século XVI, no território então abrangido pela diocese de Braga, tendo neste última cidade efectuado os seus primeiros estudos, após o que se ausentou com seus pais para França, onde escreveu a sua obra e exerceu a actividade de médico e professor na Universidade de Toulouse. Em todo o caso, nunca esqueceu os primerios passos no campo das letras, expressando por mais de uma vez que fora em Braga que despertara para o universo da cultura.
Do ponto de vista filosófico, interessa-nos focalizar a importância da sua obra no plano do conhecimento científico, questão verdadeiramente axial do pensamento moderno. Para o filósofo e médico bracarense, a natureza não é mais um espectáculo de maravilhas onde reverberam os divinos atributos, como um segundo livro simbolicamente interpretado. A sua concepção é a de uma natureza mais objectivada, um universo máquina, dando assim guarida a um pensamento que se quis científico, porque o seu esforço no âmbito da filosofia natural não se orienta mais para a articulação entre o signo e os planos do sagrado ou da moral, ficando assim a natureza desprovida do seu anterior "elan" místico.
É certo que Sanches, como mais tarde Galileu, reconheceu que a ordem do universo traduz a sabedoria de um supremo arquitecto, todavia, no plano da ciência experimental que importava então instaurar, esse mesmo universo é um sistema de leis, devendo excluir todas as formas de conhecimento e de linguagem que implicassem deslocação de sentido. Assim, a posição essencial que segue em todas as suas obras é, como escreveu, «a do filósofo, que olha só para a natureza, mas subordinando-a totalmente a Deus Todo-Poderoso, criador do Universo». Fica pois estabelecido o plano do discurso científico.
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